Neste primeira série de episódios, bato um papo com Camila Geroto, bailariana e professora, sobre o início da aprendizagem em dança: expectativas, dificuldades, sonhos e contextos.

 

Primeira parte:

 

Segunda parte:

 

Camila CG

Poderia ser só outro plié em um exercício de barre à terre, como já foram tantos. Mas foi bem mais. Foi a hora que senti física e mentalmente:

– A responsabilidade de um professor ao categorizar o aluno: “você é en dedans!”. Veja bem, não estou dizendo que não se deve diagnosticar as fragilidades e pontos a serem trabalhados. Mas quando colocamos uma etiqueta, “você É assim”, pronto, está dado, rotulado e fechado para qualquer desenvolvimento. Ser é muito diferente de ESTAR.

– Aprender é processo.

– Processo demanda espaço. Espaço para entender onde, como e por quê aquele aluno tem dificuldade. Espaço para questionar o que se aprendeu antes. Espaço para admitir o erro. Espaço para tentar abordagens, técnicas e exercícios.

– Eu sempre vou valorizar o aluno que está querendo aprender. Não aquele que só está pronto, que nasceu com facilidades. Mas aquele que está de corpo e alma disposto a tentar.

– Método é ter um caminho claro de onde estou, para onde vou e como irei. Nesse momento de novos ambientes, novas abordagens e novas formas de dar aula, é preciso mais do que nunca ter certeza do método.

– Quando o método é claro e te dá segurança, você alcança resultados mesmo em uma situação em que muita gente encara como “manutenção” e não “progressão”.

Foi o plié mais en dehors que eu já fiz na vida! Abrindo articulações, processos mentais e possibilidades.

(Plié com as queridas da #masterclass da @bravoballet. Aula da mentora de dança, método e vida @thomioka)

https://www.facebook.com/photo?fbid=10213525071799869&set=a.2978025548377

Fernanda Arakaki para o Dança em Arena

Oie! Tudo bem?

Adorei o 2º episódio do podcast de iniciação em dança. Me deixou em paz com minhas escolhas pro meu filho nesse momento. Ele me pede pra fazer ballet após me ver nos espetáculos, mas não quando vê outros espetáculos de ballet e tento entender a expectativa dele; se ele quer fazer algo comigo, pra estar perto, por querer participar do que gosto ou se por interesse na dança. Agora na quarentena ele as vezes faz 2 min de “aula” comigo e está satisfeito.

Concordo que a questão do horário e dia são importantes para a criança. Já tive oportunidades de acordá-lo cedo num sábado para uma aula experimental, mas tive receio de não ser uma experiência boa por conta do “humor matutino”. Decidi esperar por uma oportunidade que encontre condições mais favoráveis e uma maior maturidade dele para expressar seus interesses.
Sobre o próximo episódio e o rótulos da bailarina, passei por algumas experiências.

Comecei ballet com quase 14 anos por pedido do ortopedista. Nunca tinha feito nenhum tipo de dança e confesso que fui contrariada, mas se fosse acabar com minha dor nas costas, eu estava disposta. Minha mãe nunca fez ballet, nem tinha contato com a dança e nossa busca por escolas em Santo André foi com critérios que não seriam os melhores em termos de dança: distância de casa, preço, dia e horários. Fizemos visitas a algumas escolas e para minha surpresa fui rejeitada logo na primeira. Surpresa porque eu não sabia que isso existia e fui rejeitada justamente pelo motivo pelo qual o ortopedista me recomendou o ballet: escoliose!

Continuamos nas buscas e ouvi alguns comentários como, tem linhas bonitas mas não aceitamos iniciantes nessa idade, nem temos turmas. No fim iniciei numa turma de média de 8 anos de idade, numa escola de bairro. Aos 16 anos com o corpo mais desenvolvido recebi comentários de professores de que eu tinha tudo que uma bailarina precisa e não precisa ter: braços, pernas e pescoço compridos, mas poderia ter menos busto e quadril. E a questão do biotipo sempre era discutida, fulana não tem biotipo pra salto, pra giro, pra adágio etc. Então por que temos que fazer tudo nas aulas? Me perguntava. Não era melhor separar as turmas por biotipo e cada um faz aulas focadas nisso? Hehe

Continuei, fui lidando com as mudanças do meu corpo, mudei de turma e as outras alunas mais velhas eram muito acolhedoras, apesar de comentários dos profs que não me agradavam ou que me faziam reparar em detalhes que nunca tinham me incomodavam até então, elas sempre me incentivavam e me elogiavam. Mas eu focava no pé, esse sempre me salvava, não havia um que não elogiasse (Ele é puramente genético, família toda tem colo de pé sem nunca ter feito nada). Resumindo: o apoio de outras alunas, ter um ponto positivo e adorar o ballet foram o meu incentivo para seguir. Depois de muitas idas e vindas…

Enfim aos 30 e poucos anos, me encontrei numa escola que respeita e acolhe todos os tipos e condições de corpos, em que não se mede perna, busto ou quadril que não se fala em biotipo, que não se exclui aluna do espetáculo por conta do figurino que “Não vai cair bem”. E quase aos 40, depois de uma gestação, uma cirurgia na cabeça que me tirou força, equilíbrio, coordenação motora e me trouxe muitas inseguranças, me senti mais uma vez acolhida e de bem comigo mesma. Acolhimento, não comparação entre as alunas, não julgamento de corpos, não elogio a corpos e sim ao trabalho, ao desenvolvimento, e muito respeito são essenciais pra mim como bailarina. Muita gratidão :)

Fernanda Arakaki

Sobre este Episódio 03, o que dizer?!

Por Andrea Thomioka

Passadas semanas, eu ainda reverbero tantas questões e sensações desta conversa…

Não vou gastar palavras repetindo o que já foi dito, mas me pego pensando a respeito do quanto este assunto, em suas múltiplas ramificações, ainda ecoam em nossa realidade de Dança e agora expandindo a reflexão: para além da Formação em Dança.

Pensamentos e condutas antigas que já não representam esta geração ainda são exercitadas e nós, muitas vezes, ainda permitimos, apáticos ou temerosos, sem falar muito sobre.

Relembro que a questão não é a falta de gratidão ou de respeito – o que se deve sempre alimentar em relação aos nossos mestres, professores e referências – porém não significa dizer: Amém! Questionar, discordar, contrariar não é rebeldia, mas sinal de reflexão e diversidade: de visão de mundo, de amplitude de vida, de identidade diferente, de tempos – que seguem e seguiram. O que me representa, não necessariamente te representa, e ‘tá tudo bem’!

Coloco aqui, o quanto de posturas obsoletas e questionáveis, ainda acatamos passivamente – por um ‘respeito’ imposto e não necessariamente adquirido.

A arbitrariedade, a autoridade, o discurso em primeira pessoa com alto teor de monólogo, “as carteiradas”, a “minha verdade absoluta, porque somente eu sei o que é melhor para os outros”, a tentativa de se criar uma história a partir deste tempo atual, mas que não necessariamente enxerga e representa a demanda desta geração. Tudo camuflado em discursos democráticos com doses de hipocrisia se considerada a prática, além das falas.

Como se pensar numa evolução futura se são praticadas maneiras de liderança do passado?

De quem é a responsabilidade? Quem ‘arrancou as mudas das árvores’? Ou talvez, quem simplesmente esqueceu que as mudas dadas precisavam ser regadas?

Pois é… e me vem mais culpa e remorso, porque eu pertenço a esta geração e talvez tenha, também fugido de algumas responsabilidades. Talvez tenha: Acatado demais, por respeito. Me calado demais, por sobrevivência. Me tornado apática, para poupar-me do desgaste.

Seguindo. Percebo a decadência – consciente ou não – de uma figura que detém certo tipo de poder – professor, mestre, orientador, ou em qualquer outra função ou relação – quando se faz necessário subjugar os seus para conseguir, enfim, evidenciar suas capacidades. Um apelo de conduta que, a meu ver, só ressalta as suas incompetências de escuta, percepção, interação e representação.

E quando paro e penso: Sobre este Episódio 03, o que dizer?

Retomo o que está lá na página inicial, cerne do Dança em Arena: O tempo é somente este, presente, quando nos cabe pensar e viver. A grande questão é ‘como?’. Então sugiro: Produzindo Memória – o passado do presente; compartilhando Percepção – o presente do presente e provocando Expectativa – o futuro do presente.

Que expectativa eu quero lançar a partir deste meu tempo no planeta?

A escolha é somente minha e com a total percepção do que pretendo ‘cutucar’ para modificar – em mim e, talvez, no meu entorno.

Você já fez a sua escolha?

 

Andrea Thomioka, em agosto de 2020.

Comments (3)

  1. Denise Nardi

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    Ai, doeu aqui meu coração, mas foi extremamente necessário ouvir tudo isso! Parabéns pela coragem, sim precisa ter coragem, e pela preocupação com a Dança! Obrigada

    • Andrea Thomioka

      Responder

      Sim, com o coração apertado, nós tomamos coragem e resolvemos encarar o desafio de falar a respeito. Por novos tempos, onde sabedoria e altruísmo prevaleçam. Obrigada, Denise Nardi, por fazer parte de tudo isso e contribuir tanto <3

  2. Silvia Mancin Savoy

    Responder

    E eu tenho a sorte a a honra de ser aluna das duas!!!!
    Acho que, sim, as mudanças estão vindo. Uma delas foi ser possível, aos 51 anos, eu começar a fazer aula de ballet clássico. Porque, mesmo hoje, quando se fala em ballet adulto, em muitos lugares, isso significa ter entre 20 e 30 e poucos anos e já ter tido aulas quando criança ou adolescente. Já havia tentado agendar aula experimental em outros lugares antes e nunca tive nenhum retorno.
    Fazer a aula experimental na Bravo! e ser acolhida e respeitada, tanto nas questões físicas quanto nas mentais e emocionais, pela Camila e pela Thomi, me religaram a um anseio antigo pela dança, dormente por tanto tempo e tantas questões.
    Só tenho a agradecer a vocês, grandes mestras, o cuidado, a paciência, as broncas,, o incentivo. Hoje, sinto falta dos apertos. ;)

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